O Adeus de quem fica

Eram tão seus os braços de meus abraços, que mais pareciam laços que nos prendiam e faziam-me pender para seu lado. Eram tão seus os risos dentro dos meus sorrisos, as imagens e confusões de toda a minha ilusão.

E de tudo que eu podia ter certeza, das palavras que me proferiu quando suas costas foram as últimas imagens guardadas em minha memória, de tudo que a mim pediu, nada cumpri.

Naquela manhã de sol em que o vento levemente batia em meu rosto, percebi que mudado tinha tudo. Sentou-me no sofá e afagou meus cabelos com suas mãos, como sempre suando. Li o desconforto em seu rosto e em cada gesto lançado bruscamente, era impossível eu não analisar o feito por você. Ah, esses gestos que já passaram tanto de bruscos para suaves e bruscos de novo em nossa história, por meu corpo, por minha alma, agora vinham-se virar contra mim.

Eu te amo. Era o que pensava, mas você não sabia, quando fui pega de surpresa por suas palavras. Achei que era mais uma daquelas vezes que você lia meus pensamentos perfeitamente.

Eu te amo, repetiu. Apertou suas mãos nos meus braços e foi descendo, percorrendo cada centímetro do seu objeto conhecido ali em sua frente. Abraçou-me e sussurou no meu ouvido para eu guardar as melhores lembranças do passado. Um último beijo, o último abraço, derreti-me em seus braços, o último amor, o último afago, o último riso, a primeira lágrima.

Fiquei deitada enquanto levantava-se, vestia-se, apanhava as malas prontas a um canto do corredor e saía porta afora, sabia eu, para nunca mais voltar.

As marcas de minha alma escorriam pelo meu rosto a cada passo que distanciava-se de mim. Fiquei deitada por não sei mais quanto tempo, não sei mais quantos dias. Mas, a minha impressão é de que nunca mais havia me levantado.



"Pois vá embora, por favor/Que não demora pra essa dor... sangrar" (A Outra - Los Hermanos)

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