O Adeus de quem parte

Eram tão seus os braços de meus abraços, que mais pareciam laços que nos prendiam e faziam-me pender para seu lado. Eram tão seus os risos dentro dos meus sorrisos, as imagens e confusões de toda a minha ilusão.
Era eu tão seu. Éramos nós felizes, não éramos?
Mas à mesma velocidade em que eu pensava isso e convencia-me do afirmativo, nós éramos felizes, minhas mãos arrumavam a mala aberta aos meus joelhos. O convencimento da felicidade veio junto ao pensamento de que não se precisa convencer-se dela; sente-se. Ao contrário, a plenitude não é verdadeira.
Esperei você chegar. Uma brisa quente de uma manhã de sol pegou seus cabelos. Linda, era tudo que eu conseguia pensar. Exatamente linda como naquele dia em que nos conhecemos, uma brisa, dessa vez fria, em você, uma brasa em mim.
Olhei o fundo de seus olhos e me vi no fundo de sua alma. Ah, tão fácil conversar com você que já sabe tudo que quero antes mesmo de pronunciado; tão difícil conversar com você que já sabe tudo que quero antes mesmo de pronunciado.
Ao nos sentarmos naquele sofá já tantas vezes testemunha de nosso amor, tive vontade de voltar atrás em minha decisão pela primeira vez. Seus olhos, doces e tempestuosos, entretanto, pareciam me insuflar: você já havia percebido o que ia acontecer. E ao invés de me segurar, aconselhava-me a ir, como se a coragem que tanto admirou em mim durante anos fosse evaporar caso desistisse.
Como tremia quando pus a mão sobre seu corpo e senti de novo a mesma vontade. Ali, onde nos amamos tantas vezes, mais uma vez me encontrei em você.
Na verdade, eu não compreendia o motivo de estar partindo e você sabia disso. Falei apenas para recordar do passado, trocamos um último beijo, o último abraço, derreteu-se em meus braços, o último amor, o último afago, o último riso. E ao levantar, vestir-me, pegar as malas e sair porta afora, uma lágrima molhou meu semblante.
Ali tive certeza: a vontade de voltar atrás jamais sumiria de mim; sempre, sempre eu pensaria o que teria sido se nada tivesse mudado, ou o futuro caso eu voltasse.
Mas eu nunca voltei. E apesar de cada lágrima, as quais apanharam-me nos dias de brisa quente que o cheiro de seu cabelo envolvia meu ar, eu segui.



"Vê se te alimenta/E não pensa que eu fui por não te amar" (Adeus Você - Los Hermanos)

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