Biografia

Era eu.
Careca, sem dente, nu,
desprotegido, recém-chegado,
só meu corpo era meu.

Éramos dois, antes mesmo de eu chegar.
Unidos pelo sangue, pelo cordão,
pela vida
e por tudo que ainda nem tinha acontecido.

Éramos três, quatro, cinco e seis,
e a cada passar de ano, éramos mais outra vez.
Éramos tantos que já não podia nem contar,
e eu com eles, e eles comigo,
meus amores, minha familia, meus amigos,
uns iam, mas a porta aberta
sempre alguem a entrar.

Éramos tantos,
que o tempo passou
(tudo mudou).
De alguns me despedi,
outros nem mais vi,
e assim o tempo seguiu
me trazendo, e furtando, os anos.

Éramos seis, cinco, quatro e tres,
na re-contagem
de trás pra frente,
de cima pra baixo,
sem mais direção
sem mais lógica
sem mais opção.

Éramos dois,
e por quanto tempo?
-Não me leve embora,
mas não me deixe só.
Éramos nós, desde o início...
Mas o cordão se quebrou,
o sangue afinou,
a vida seguiu,
e voce partiu.

Era eu.
Careca, sem dente, nu,
desprotegido, há tanto tempo aqui.
Tanta coisa pra agradecer,
tanta coisa pra se despedir,
muita coisa pra fazer.
Os olhos fechados que trazem a duvida
são os mesmos olhos fechados
que formam meu
ponto final.

Comentários

Camilla Lima disse…
Sempre perfeito nas palavras. Te admiro muito, você sabe !
Carla Vergara disse…
Herique, o que é isso aqui? Que poema maravilhoso, perfeito, lindo!!!
Mônica Moreira disse…
Lindo! Parabéns meu filho querido!

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