Tristeza Companheira

Eu sei viver com a tristeza.
Eu não sei viver com a tristeza.

Ela é uma sementinha que,
quando germina, quando cuidada,
é só mais uma árvore
no jardim tão grande que há
dentro de nós.

Ela é uma erva daninha
que se alastra e se alimenta
de tudo aquilo que vê,
de tudo aquilo em que encosta
dentro de mim.

A tristeza é só uma face
de um dado que jogo,
e às vezes robo,
e que com sorte, talvez
demore bastante a aparecer.
Mas, com paciência,
ela chega.
E, com paciência,
ela vai.

A tristeza é um campo,
não traz escolha, não vem com mapa,
não tem horizonte e acaba
com as perspectivas.
A gente entra, procurando
um fim e, enfim,
se perde no caminho.

A tristeza em mim não habita
por mais de um segundo, um instante.
Mas por vezes participa,
solene, como se me respeitasse,
e vai tomando espaço e tirando uma cadeira.
E se pergunto quanto tempo dessa vez,
responde, entre dentes, aflita
que não me quer deixar.

A tristeza, quando chega,
me divide em dois que não sabem
mas têm de viver juntos.

Comentários

Carla Vergara disse…
Henrique, que poema mais perfeito. Mto maduro e que honra este sentimento nobre as vezes tão rejeitado. Grande beijo, Carla
Camilla Lima disse…
Ficar dois meses sem ver um post seu vale a pena quando me deparo com isso aqui. Não gosto da tristeza, pouco gosto de pensar nela, mas você foi perfeito na intenção.

Saudades de você.

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