Música

Andava em silêncio.
Um silêncio que gritava. E ensurdecia.
E voltava a emudecer.
Os dias que sempre foram altos,
barulhentos e até um pouco bagunçados,
andavam sem som.

Não sei bem como, ou quando, isso aconteceu,
mas em nada lembrava o mundo meu
mundo que construí com tanto cuidado.
Apesar de tudo, o riso
escondido e pequeno
continuava no canto da boca, como que
esperasse para voltar a tomar a boca toda
a vida toda
a alma toda.

E nessa espera,
no silêncio
e na surdez,
no riso pequeno,
aprendi, inesperadamente,
mais uma vez
que as melhores coisas não
se esperam.

Foi de repente
que voltei a escutar.
Aquela música.
E aquela gargalhada.
Eu achava que tinha vivido em silêncio
só por um tempo
só por um momento em que não conseguia ouvir
nada
com muita clareza.

Mas foi com essa música, mais alta que nunca,
com essa gargalhada que enche o ouvido
e mais ainda a alma
que percebi que era a primeira vez
de verdade
que eu escutava.

E o riso voltou.
De boca inteira. Orelha a orelha.
E a voz.
Foi voltando a escutar aqui fora
que fez a voz voltar aqui dentro.

E não vai embora, não.

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