Correspondências; eu Amado, ela Andrade!

"Desça do trem que daqui a pouco passa outro e a gente embarca na próxima ilusão. Hoje eu quero um abraço com gosto de agora pra fazer esquecer que a sapucaí é longo e que cada carro alegórico só passa uma vez.

Desça do trem e me convide para uma loucura que me permita o movimento e vamos transformar todo texto antigo em um novo ato. Olhar correr deixar saudar sorrir abraçar observar ruborizar desafiar sentir permitir permutar tecer aproveitar. Vem que já meia o verão e a cidade transborda a beleza das cores e toda essa geografia atenta para fazer parte do seu quadro. Na nossa foto. Quero compor a canção para tocar no violão que nunca aprendi e que será só tua, somente tua, e cada vez mais nossa. Deixe a noite virar dia e no brinde das taças a gente sente o pulso acelerar ao menor toque que é também o maior.A gente percebe que se encontrou, que no meio da correria, teu braço acenou e eu respondi ao teu chamado, ao teu convite sem lógica que me encanta como se tudo fizesse sentido, como se fosse mais simples.

Aqui é possível. Acredito que seja possível em todos os lugares, mas falo por mim: do umbigo que me autoriza. Sendo assim, aqui é possível o encontro e ousaria, o encanto. Embriagados, sem que esse seja um motivo a mais pra querer tua presença, eu me deixo levar e me deixando levar, percebo o quanto é delicada e singular e enorme e também poderosa - fortalezas também podem ser delicadas - as nossas intenções. Sem aquela velha mania mascarada de querer parecer alguém que nunca existiu, teus olhos nos meus dispensam a cena da maneira inédita, debutamos juntos na cena de personagens que existem e que não são mais cena. Dispensamos a platéia. Apagamos os refletores e é no mínimo que a gente se esbarra. Que a gente sorri o encanto. Sem vaias, aplausos, burburinhos, publicidade.

A soma da tua história na soma da minha história e somos duas pessoas que sequer imaginavam a possibilidade viva de um e o outro, no outro do um. Um brinde em sorrisos de olhos atentos que acontecem sem que precisemos de permissão.

Ele vem. Eu vou. Tantos meses. Tanto. Eu respondo tuas inquisições dizendo que fico feliz pelo carinho que gera confiança e é importante saber que posso cair nos teus braços. Que posso deitar nos teus braços. Que posso sempre optar pelo abraço. Na soma de tudo, a gente sempre se esbarra. E cada ponto final termina onde você encaixa aquela vírgula sem lugar. E percebe que era motivo suficiente o bem querer.

Desça do trem e corra comigo um sorriso, escreva em conjunto um carinho, perceba que toda a amizade é verdadeira e frutífera. E verdadeira, e possível, e real, e indelével.

Desça do trem que já não há mais ipês. Anda logo, coisinha, que a saudade ainda vai bater no teto. Até um canalha precisa de afeto. Dor não cura com penicilina...
carinho paulisa-mineiro-cariocas,Nick Manes."


"8 de dezembro de 2008.
Faz lua no céu, as estrelas brilham um certo brilho já visto antes e não reparado antes.Será que faz lua e brilha onde você está? Ouvi dizer que pra lá do vento da saudade não tem, mas não acredito não. Estou certo de que o vento que ai te ventas, venta aqui dentro, seja calor ou frio, seja sol ou lua.
8 de dezembro de 2008.
Hoje é o dia de todos os sentimentos. Hoje é o dia de esvaziar-se de sentimentos. O padre aqui da paróquia disse para acendermos uma vela e deixar o coração ao relento e esfriá-lo. Mas não acredito não. Meu coração tá sempre assim, tão quente, que não sinto a geada que começou a vir agora há pouco.
8 de dezembro de 2008.Escutei no rádio novos anúncios do Obama, mas na verdade pensava na voz anasalada do locutor. Será que existe um sindicato para eles? Digo para aqueles que têm voz anasalada, não para os locutores de rádio, afinal os últimos não merecem: é certa a manipulação comunista por trás dos comentários deles. Dizem serem bons, mas não acredito não.
8 de dezembro de 2008.
Acabou de chegar a carta que você me escreveu há duas semanas dizendo que ia partir. Aproximei-a do rosto e senti teu perfume que me lembra o Guarujá em dia de sol e vi a orla de Salvador diante de mim. Disse que os ipês se abriam, os contadores zeravam e o Rio de Janeiro estava entediante. Se mandaria com umas maçãs e algo mais para uma cidade que houvesse mais festas. Mas não acredito não. Mamãe sempre disse que a Cidade Maravilhosa não tem comparação com as outas.
8 de dezembro de 2008.
Quando te levei na rodoviária, percebi que não tinha como te tirar de dentro do navio. Ia navegar suas águas intempestivas num mar mais agitado que a minha lagoa cotidiana. Percebi que, na vida, a gente abre mão, às vezes, do que não quer e que pessoas que marcam, não precisam estar por perto. Mas não acredito nisso não. Lembra daquele coração aquecido e da lagoa branda? Aproximam-me-te. A onda provocada continua a existir. E ecoa aqui dentro a perpetuação: pra sempre, pra sempre, pra sem...p...r..!
Na minha torneira da vida, o gota-a-gota nunca pára de contar. Saudade."

Comentários

Camilla Lima disse…
'saudade é memória. do coração'
e nessa bricadeira de parafrasear, não é que o último vagão está quase chegando?

saudade que dói.
e dói pq é de verdade.

N.M.Andrade

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