Paradoxo do caso Sereno

Outro dia, acordei no meio da madrugada. Olhei pro lado e ela estava a dormir, serena, com a cabeça envolta por aquele travesseiro macio que minha mãe comprara para mim meses atrás. Havíamos levado esse travesseiro para a viagem. Ela disse que nunca mais dormiria sem aquele travesseiro desde o momento que havia encostado nele, e era verdade. Eu escutava as ondas quebrarem longe, imaginava os peixes dentro dela naquele eterno vai-e-vem da maré.
Não sabia dizer o que havia me despertado abruptamente. Não estava incomodado, nem nada. Apenas acordei, assim, do nada. E olhei pro lado, enquanto ela dormia na cama serena. Encostei meus lábios na testa dela e senti ela se acomodar mais pra perto de mim, procurando meu corpo. Tantas vezes já tínhamos passado por isso. Levantei-me suavemente para que ela não acordasse. Andei até a janela e percebi que algo mudara naquela madrugada. Estava longe, saberia eu depois, de descobrir exatamente o que era. Mas, assim, do nada, abruptamente, alguma coisa mudou e senti vontade de sair dali para algum lugar mais distante do mundo.
Eu queria ver o mar, o sol, as pessoas, as cores, lá do outro lado do mundo, quem sabe até fora dele. Eu queria pular de pára-quedas enquanto tomava um chá com leite, como os ingleses fazem. Queria mergulhar com tubarões levando apenas um pedaço suculento de charque argentino e, ainda assim, eles seriam amáveis e gentis. Depois eu daria a carne como recompensa pra eles. As coisas andavam meio em preto e branco.
Voltei meus olhos para ela que dormia um sono brando. Peguei uma mochila e enchi com algumas coisas. Tempo igual levou para que eu escrevesse um bilhete pequeno que dizia: "Fui ver o mundo e volto. Espera" e o deixasse em cima de uma mesa de cabeceira. E saí, atravessei a rua e a rua me atravessou. Pensei no sono intranquilo que agora ela levava. Mas eu voltava. E ela me esperava.



"Freedom is a mine /you know how i feel /it's a new dawn /it's a new day /it's a new life for me.. /and I'm feeling good" (Feeling Good - Bobby Daren)
"Eu volto logo, me espera /Não brigue nunca comigo /Eu quero ver nossos filhos /(...)Leve o mundo /Que eu vou já" (ECT - Cássia Eller)

Comentários

Nathalia Toledo disse…
É... ele resolveu empinar seu sonho, a lição do texto anterior. Deveria ser assim sempre. Terminou lindamente com ECT.
Anônimo disse…
Te achei! Não sabia que você tinha blog.

Adorei o texto.

Um beijo!
Esqueci de assinar né?

Beijos Nath Fernandes
Nathalia Toledo disse…
Postei! E você, hein?

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