Construção

Às vezes, quando a gente passa tempo demais pensando, seja em qualquer assunto, nos perdemos em diversas memórias que, de vez em quando, nem nos pertencem. Relembramos momentos, risadas, tristezas e até histórias que outras pessoas nos contaram e acabamos revivendo como se tivéssemos sido nós mesmos a passar por elas da primeira vez.
Hoje, de fato, pensei muito. Sem uma pauta fixa, pré determinada, minha cabeça ficou à mercê de músicas, fotos, programas televisivos e blogs. A viagem, então, se fez. Por águas profundas do distante passado, por filetes de água de um futuro que ainda está se formando. Ainda há tão pouco com o que se pudesse fazer algum tipo de previsão - mesmo que eu mesmo nem saiba se gostaria de prever algo ou preferiria a surpresa.
A profundidade do passado, porém, me assusta. Não são simplesmente lembranças soltas que trago em minha bagagem por essa vida. Nesse intervalo, consigo vislumbrar um apanhado de situações, perdidas em épocas diferentes de minha existência, que formam um todo, num paradoxo sem fim de dissociação e indivisibilidade: enquanto juntas, sou eu; separadas têm um significado único e ainda mais especial, mas que nunca definiriam a complexidade de alguém.
E, nessas lembranças, como num sonho, havia dois de mim: um da época, ali vivendo (e aprendendo) cada experiência e o eu de agora, que a elas assistia, parcialmente julgando. Veja bem: não sou um escritor, quem dirá um prosador ou poeta saudosista.
Na realidade, não sei nem se é com saudade que penso nesses tempos. Acho que saudade é devastador demais para ser isso que sinto agora. Em contrapartida, não acho as palavras ideais para definir. Sendo simplório, é uma forma de agradecimento. Às pessoas, boas e ruins, com quem convivi, e situações por que passei. Elas construiram, pedaço a pedaço o meu presente.
Hoje, se tenho planos, se tenho idéia do que desejo ou não para minha vida, é devido às minhas experiências passadas. E eu anseio para que, daqui a algum tempo, eu possa olhar para o passado e ver, mais uma vez como juiz, o meu eu de hoje, acertando e errando e construindo, paulatinamente, uma trajetória, no mínimo, interessante.


"Então tentar prever /serviu pra eu me enganar /(...) Numa moldura clara e simples /sou aquilo que se vê" (Retrato pra Iaiá - Los Hermanos)
"E se eu fosse o primeiro a voltar /pra mudar o que eu fiz, /Quem então agora eu seria? (...)/E se eu for o primeiro? /A prever e poder desistir /do que for dar errado (...)/Dispenso a previsão /Ahhh, se o que eu sou /é também o que eu escolhi ser /aceito a condição" (O Velho e o Moço - Los Hermanos)

Comentários

Talitha disse…
não poderia concordar mais com o q vc falou sobre aprender com os erros passados, e como cada pessoa ou situação nos modifica...
bjuuus
Mônica Moreira disse…
E a nossa vida vai sendo construída com este aprendizado. Todos os momentos que vivemos nos traz uma emoção, boa ou ruim, mas que nos ensina a ser uma pessoa melhor...

Postagens mais visitadas